Boletim Informativo Nº 49
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Drº Marcelo D’anzicourt Pinto
A tomografia de coerência óptica (OCT) é uma nova modalidade de imagem intravascular, de alta resolução, que possui grande versatilidade de aplicações. Ao contrário do ultrassom intracoronário (IVUS), que utiliza o som em frequência de mega-Hertz a OCT utiliza feixes luminosos com bandas próximas ao espectro infravermelho. Essas propriedades conferem uma resolução axial de 10 a 15 µm, um incremento de cerca de 10 vezes em comparação com IVUS possibilitando visualizar a microestrutura vascular em nível praticamente histológico e introduzindo uma nova era no cenário da imagem intravascular. O preço a se pagar por tamanho aumento na resolução é uma penetração tecidual limitada de 1 a 3 mm quando comparada à penetração de 4 a 8 mm fornecido pelo IVUS.
O equipamento básico de OCT consiste de um cateter de imagem, um pullback motorizado integrado, um console de imagem, que contém a fonte de energia luminosa, uma unidade de processamento dos sinais, um dispositivo de armazenamento de dados e monitores de visualização. O sistema adquire imagens tomográficas do vaso alvo com uma taxa de 100 frames/s, e velocidade máxima de tração do cateter de imagem de até 25 mm/s. Essas características permitem a aquisição de imagens durante uma injeção coronária de contraste, sem necessidade de oclusão do vaso, e com perfil de segurança elevado. Cautela deve ser adotada na realização do exame em pacientes com grave disfunção ventricular e/ou renal, em função da necessidade da infusão adicional de contraste.
A OCT mostrou-se bastante acurada em visualizar as três camadas de uma coronária normal, assim como identificar pequenos graus de espessamento intimal. Em estudos, a OCT demonstrou altas sensibilidades e especificidades em discriminar diferentes componentes da doença aterosclerótica, tais como a presença de placas fibróticas, fibrocalcificadas e ricas em lipídeos. OCT demonstrou boa acurácia em detectar presença de calcificações, e quantificar sua distribuição circunferencial, profundidade e distância até o lúmen. A OCT também demonstrou uma boa acurácia e sensibilidade em detectar e quantificar aspectos morfológicos de placas aterosclerótica ditas ‘’ vulneráveis ‘’, como conteúdo lipídico, núcleo necrótico, espessura da capa fibrótica e infiltração de macrófagos. Em comparação com a angiografia e com o IVUS, a OCT demonstrou maior capacidade em detectar rupturas de placas, erosão de placa fibrosa e presença de trombos vermelhos (ricos em hemácias) e trombos brancos (ricos em plaquetas).
Esses aspectos posicionam a OCT como um método de grande utilidade para caracterização da placa aterosclerótica, contribuindo sobremaneira para melhor entendimento da doença coronariana e auxiliando na detecção das placas vulneráveis mais propensas a ruptura e síndrome coronariana aguda. O conhecimento da composição da placa aterosclerótica também contribuem de forma importante para o planejamento e guia do tratamento intervencionista, sugerindo o uso de terapias adjuntas como por exemplo inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, aterectomia rotacional e auxiliando na prevenção de complicações como dissecções.
É sabido que subexpansão e má-aposições dos stents foram associados com ocorrência de reestenose e trombose aguda ou subaguda, ressaltando a importância de se buscar o implante ótimo do stent. A alta resolução da OCT, permite detalhada avaliação da interação stent/vaso com um nível bastante elevado, com detecção de prolapso de placa, dissecções, trombos, assim como avaliação e quantificação da expansão e aposição de stents isso com alta sensibilidade e acurácia.
A OCT também permite diferenciar os diferentes tipos de mecanismo de reestenose pois sua alta resolução axial permite avaliação de mínimas camadas de tecido neointimal recobrindo as hastes de stents. Outro papel muito importante da OCT é diferenciar a reestenose da neoaterosclerose que é outro mecanismo de falha tardia do stent que implica em uma abordagem terapêutica diferente.
A utilidade da OCT para guiar procedimentos de intervenção coronária foi testada de forma sistemática em três estudos randomizados. Nos estudos OPTIMIZE PCI, ILUMIEN-III e no iSIGHT Dessa forma a Sociedade Brasileira de Cardiologia e Sociedade Brasileirade Cardiologia Intervencionista sobre Intervenção Coronária Percutânea tem como recomendação classe IIA para utilização da OCT no cenário dos mecanismo de falência do stent, para identificação de lesões culpadas no cenário das síndromes coronarianas agudas, quando essa informação não pode ser obtida pela avaliação clínica ou eletrocardiográfica, pode ser utilizada, para guiar e otimizar o implante de stents metálicos.
Portanto, a OCT é uma modalidade de imagem de alta resolução, recentemente introduzida na prática clínica intervencionista, com características únicas que possibilitam avaliação da biologia vascular com detalhes jamais fornecidos por outro método, isso com segurança elevada e facilidade de uso.