INTRODUÇÃO
De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) a utilização da radiação ionizante para fins diagnósticos cresce em média 10% ao ano no Brasil. Nos EUA estima-se que entre 1980 a 2006 teve um aumento de 600% da exposição à radiação para produção de imagens médicas. E a terceira maior contribuição às doses coletivas são dos procedimentos de cardiologia intervencionista (Leyton et. Al., 2014).
A atuação da cardiologia intervencionista vem aumentando significativamente, tanto pelos inúmeros procedimentos em diagnóstico e tratamento de doenças coronarianas, já que estas apresentam o maior índice entre hospitalizações e mortalidade. Como também pela introdução de novas tecnologias e a modernização dos aparelhos de Raio X.
No serviço de hemodinâmica, utiliza-se da técnica de fluoroscopia, o que permite obter imagens do paciente em alta resolução e em tempo real, registrando movimentos e estruturas internas. Enquanto a radiografia convencional utiliza filmes de raios-X e necessita de processo de revelação, a fluoroscopia possui um sistema dinâmico de aquisição de imagens, e estas são vistas em tempo real durante o exame. Porém à a necessidade do médico e a equipe se posicionar ao lado do paciente o que contribui para uma maior exposição ocupacional à radiação ionizante. (Flor; Gelbcke, 2013).
De acordo com Cássia Flor e Cardoso (2006), profissionais da aérea acabam por exceder doses limites anuais justamente por conta do posicionamento durante os procedimentos hemodinâmicos. E por lidarem diariamente com o risco no exercício de suas funções acaba não sendo um motivo de grande preocupação. Os riscos da exposição são riscos cumulativos, que se tornam significativamente preocupantes associado com a vida toda de exposição sem as medidas de precauções apropriadas.
É importantíssimo que profissionais médicos, enfermeiros e técnicos que participam das tarefas dentro de um setor de hemodinâmica, tenham conhecimento dos efeitos biológicos e em como são divididos, assim como a necessidade de conhecer as medidas de proteção radiológica. Por conta disso, o objetivo deste trabalho foi abordar o tema, a partir de revisão de literatura.
HISTÓRIA
Em 1985 um físico alemão chamado Wilhelm Röntgen em uma de suas pesquisas sobre os efeitos externos da radiação de vários tipos de tubos a vácuo, acidentalmente descobriu um novo tipo de raio que possibilitou visualizar os ossos de sua mão, atualmente chamado de RAIO X. O episódio ficou registrado como a descoberta oficial da radiação ionizante. Depois de vários testes, fez a primeira chapa fotográfica da mão de sua esposa Anna Bertha. E em 1901 sua repercussão foi tremenda que recebeu o prêmio Nobel. ( SEGRE, 1987).
Thomaz Edson poucos anos após a descoberta de Rontgen, e com a ajuda de seu assistente Clarence Dally desenvolveu dois conceitos: a fluoroscopia que são imagens dinâmicas vistos em um monitor de televisão através do tubo de raio X e a tela intensificadora que permitiu reduzir o tempo de fluoroscopia. O que acabou por expor os dois a uma grande quantidade de radiação por horas a fio. Thomaz abandonou suas pesquisas quando seu assistente teve ambos os braços amputados por queimaduras graves e posteriormente no ano de 1904, foi a óbito. Foi o primeiro óbito causado por Raio X. (FLOR E CARDOSO, 2006).
Segundo ARRUDA (1996) realizou um trabalho somente da história de Rontgen, e revela que o mesmo nunca sofreu danos e queimaduras por radiação, pois desde o início criou uma cabine de chumbo que impossibilitava a entrada e penetração de luz e de raios. Protegendo-o sempre em suas exposições.
Em 1902 teve o primeiro relato de câncer por exposição à radiação. Logo em seguida já começou a ser evidente que a radiação ionizante afetava tecidos biológicos. Muitos casos foram surgindo, era caracterizado por lesões de pele e perda de cabelo. Evidenciou-se então a importância do estudo dos efeitos biológicos, com o objetivo de diminuir os efeitos prejudiciais ao homem.
No ano de 1910 começaram a controlar e investigar os relatos de lesões de pele. Mas somente em 1922 foi que iniciou as recomendações aos profissionais da aérea, determinando barreiras de proteção, limitações de dose e dispositivo de proteção individual para controle de anemia e leucemia (FLOR E CARDOSO, 2006).
EFEITOS BIOLÓGICOS
Os efeitos biológicos são danos causados em moléculas pequenas, como moléculas de água ou até mesmo moléculas grandes como o DNA, a partir do momento em que partículas ionizantes interagem com o meio celular. Estes efeitos são classificados em determinísticos e estocásticos, classificação é dada com base na dose absorvida. Além de classificações quanto ao tempo de manifestação, sendo imediatos e tardios e em função do nível de dano, somáticos e genéticos, segundo informações colhidas no site da Secretaria de saúde.
Efeitos determinísticos: são os efeitos causados por altas dose de radiação, acima do limiar, em um curto espaço de tempo, onde a severidade ou gravidade do dano aumenta com a dose aplicada. Assim os efeitos determinísticos são nulos para valores de dose abaixo do limiar (LEYTON et. Al., 2014).
BIRAL (2002), caracteriza estes efeitos como a imediata relação “causa e efeito”, entre a exposição de um organismo a uma alta dose de radiação ionizante e os sintomas atribuídos à perda das funções de um tecido biológico.
“A severidade do dano é proporcional à dose, a partir do limiar. Por exemplo: os efeitos na pele são: eritema (de 3 a 5 Gy), descamação úmida (20 Gy), e necrose (50 Gy). A morte após exposição aguda não ocorre com doses inferiores à 1 Gy.” (SEARES E FERREIRA, 2006).
Na cardiologia intervencionista os efeitos mais frequentes são a formação de catarata, em médicos, e lesões de pele em pacientes.
Efeitos estocásticos: são os efeitos provocados por pequenas doses recebidas ao longo de um grande período de tempo. Isto significa, que doses pequenas, abaixo dos limites estabelecidos por normas e recomendações de radioproteção, podem induzir efeitos somáticos e hereditários. Temos como exemplo o câncer, devido à mutação de células somáticas ou por doença hereditária. O período de aparecimento (detecção ) do câncer após a exposição pode chegar até 40 anos. No caso de leucemia, a frequência passa por um máximo entre 5 e 7 anos, com período de Latência de 2 anos. (Secretaria de saúde).
RADIOPROTEÇÃO
Radioproteção ou proteção radiológica são medidas que visão proteger o homem e o ecossistema de possíveis efeitos indesejáveis causados pela radiação ionizante. A proteção radiológica tem como objetivo minimizar as doses de radiação, sendo a mais baixa possível, levando em conta o princípio ALARA – acrômio para As Low As reasonable exequível, que quer dizer: tão baixo quanto possivelmente exequível. No Brasil as diretrizes básicas se relacionam as normas do CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
A proteção radiológica se baseia em três princípios:
As principais medidas de radioproteção são:
Blindagem:
Em alguns países já é regra a comercialização de equipamentos de fluoroscopia somente se contiverem dispositivos externos como o saiote plumbífero e o biombo de teto. Porém no Brasil essas diretrizes ainda não foram estabelecidas. LUNELLI et.al. (2013) diz que o saiote plumbífero reduz em 90% a dose recebida nos pés dos médicos.
O uso de equipamentos de proteção radiológicas (EPI) é obrigatório para todos os profissionais da aérea. Mas apesar da obrigatoriedade há relatos de desuso por conta do peso e consequentemente incomodo. Os EPIS são: avental PB, óculos PB, protetor de tireoide e dosímetro (PAZ; BOLOGNESI, 2016).
Os aventais são especialmente desenvolvidos para as práticas, contendo chumbo, o elemento mais empregado como barreira de proteção. A espessura pode variar de 0,25 a 0,5mm de chumbo que atenua até 95% da radiação espalhada para 70Kv. Essas vestimentas devem ter um cuidado diário, e uma inspeção periódica para garantir a proteção dos profissionais (LEYTON et. Al. 2004). Atualmente a legislação preconiza que os dosímetros individuais sejam utilizados por cima do avental de chumbo.
O dosímetro é um dispositivo que faz a medição da quantidade de radiação incidente. Podendo determinar as doses de radiação recebidas pelos profissionais usuários. É de uso obrigatório e pessoal. Atualmente a legislação preconiza que os dosímetros individuais sejam utilizados por cima do avental de chumbo. (PRÓ-RAD).
Os óculos com proteção 0,75mmPB, atenua a radiação recebida em 30 a 88%. Tem esta ampla diferença entre o mínimo de dose atenuada e o máximo, por existir uma limitação de proteção dependendo do ângulo de incidência da radiação e ao retro espalhamento da cabeça (Mv Vey et. Al. Citado por LEYTON et. Al. 2014).
CONCLUSÃO
Neste estudo bibliográfico foi possível observar a importância de conhecer os efeitos biológicos, e principalmente o objetivo e o uso adequado dos equipamentos de radioproteção. Pois desta forma podemos reduzir significativamente a exposição à radiação.
REFERÊNCIAS:
ARRUDA, Walter Oleschko. Wilhelm Conrad Rontgen. 100 Anos da Descoberta dos Raios X. Arquivo neuropsiquiatria: 1996.
BIRAL, Antônio Renato. Radiações ionizantes para médicos físicos e leigos. Florianópolis: Insular: 2002.
CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Disponível em: http://www.cnen.gov.brDATA SUS - Departamento de Informática do SUS . Informações de saúde. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br
FLOR, Rita de Cássia; CARDOSO, Ana Lúcia. Uma prática educativa de sensibilização quanto à exposição à radiação ionizante com profissionais de saúde. Revista Brasileira de Enfermagem: 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672006000300005.
FLOR, Rita Cássia; GELBECKE, Francine Lima. Desgaste Profissional da Enfermagem Decorrente da Exposição à Radiação Ionizante em Hemodinâmica. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010407072013000200018&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em agosto de 2019.
LEYTON, Fernando; CANEVARO, Lucia; DOURADO, Adriano; CASTELLO, Heli; BACELAR, Alexandre; NAVARRO, Marcus Teixeira; VANO, Eliseo; NOQUEGIRA, Maria do Socorro; BATISTA, Wilson Otto; FURQUIM, Tania; LYKAWKA, Rochelle; MELO, Camila; BORGES, Flávia; RODRIGUES, Barbara. Riscos da Radiação X e a Importância da Proteção Radiológica na Cardiologia Intervencionista: Uma Revisão Sistemática. Revista Brasileira de Cardiologia: 2014.
LUNELLI, Neuri Antônio; KHOURY, Helen Jamil; ANDRADE, Gustavo Henrique Vieira; BORRÁS, Cari. Avaliação da dose ocupacional e de pacientes adultos em procedimentos de angiografia cerebral. Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem: 2013. Disponível em: http://www.rb.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2472&idioma=Portugues |
Secretaria de saúde. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br.
SEARES, Marcelo Costa; FERREIRA, Carlos Alexsandro. A Importância do Conhecimento Sobre Radioproteção Pelos Profissionais da Radiologia. Florianópolis: 2006.
SEGRE, Emilio. Dos Raios X aos Quarts. Físicos Modernos e suas Descobertas. 1987.
PAZ A., BOLOGNESI L. Radioproteção Aplicada ao Serviço de Hemodinâmica. Botucatu, SP. 2016. Disponível em: http://www.fatecbt.edu.br/.
PRÓ-RAD – Consultores em Radioproteção. Disponível em: https://prorad.com.br/.