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O ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO E SUAS RELEVÂNCIAS PARA DETECÇÃO DE ARRITMIAS CARDÍACAS

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Natália Sangali Costa 

Graduada em Enfermagem, atua no HCI Hemodinâmica com Intervenção.

 

Resumo: O objetivo desse artigo é revisar, brevemente, as relevâncias do estudo eletrofisiológico para o diagnóstico e tratamento das arritmias cardíacas e como isso na prática clínica resultou em um grande progresso na abordagem de pacientes com arritmias. Sendo assim a compreensão dos mecanismos envolvidos na gênese da anormalidade de ritmo cardíaco que é fundamental para nortear à terapêutica, pois o sistema nervoso autônomo participa ativamente da eletrofisiologia da célula cardíaca e dos mecanismos relacionados ao desencadeamento das arritmias cardíacas. As arritmias cardíacas representam um grupo de distúrbios do ritmo cardíaco, que inclui um grande número de doenças, algumas bastante comuns e outras extremamente raras. É importante saber que podem ocorrer em qualquer idade, independente do sexo e da etnia, estando ou não associados a outras doenças do coração. O estudo eletrofisiológico é um grande avanço tanto no diagnóstico da arritmia, quando na capacidade de apontar a origem e orientar o melhor tratamento a ser seguido, que consecutivamente, trará maiores resultados ao paciente.

 

Palavras-chaves: Arritmias Cardíacas, Eletrofisiologia, Diagnóstico, Tratamento.

 

Introdução

 

O presente artigo com o tema: O Estudo Eletrofisiológico e suas relevâncias para a detecção de arritmias cardíacas é uma breve discussão das pesquisas desenvolvidas na área, sendo uma revisão bibliográfica do tema, que contribui para a compreensão dos avanços no diagnóstico e tratamento das arritmias cardíacas. Estas apresentam comportamento eletrofisiológico, manifestação clínica, prognóstico e resposta terapêutica diversas na população. Em condições normais, o coração humano adulto bate em uma frequência que varia de 60 a 100 vezes por minuto, o coração é um órgão eminentemente muscular e, como os outros músculos do corpo, ele precisa de um estímulo para funcionar adequadamente. Todo o aparelhamento cardíaco apresenta uma condução elétrica própria, ou seja, capaz de

 

criar por si só condução elétrica a partir da inervação interna, o batimento cardíaco então, é formado por uma sequência de ações, tendo início com a despolarização cardíaca no Nó Sinoatrial e finalizando-se com a repolarização ventricular, em outras palavras uma sístole e diástole dos átrios, seguido de uma sístole e diástole dos ventrículos.

 

A frequência do batimento é determinada após a geração de estímulo, e o quanto o coração consegue contrair-se por minuto, estamos levando em consideração é claro, a situação do indivíduo (idade) e seu estado (repouso ou em exercício) com isso pode realizar sua principal função, a de bombear o sangue oxigenado para todos os outros órgãos do corpo. No entanto, nem sempre as coisas acontecem desta forma, em alguns casos, por diversos motivos, esse estímulo não é gerado na frequência correta, ou com potência o suficiente, esses estímulos anormais também podem ser conduzidos pelo coração, causando ou não sintomas leves e graves de arritmias, podendo levar a morte.

 

O estudo eletrofisiológico, foco dessa pesquisa, é um exame de avaliação invasiva, um dos procedimentos disponíveis, dentre outros, que serve para detectar e estudar os defeitos do sistema elétrico do coração, sendo o mais tecnológico e de maior precisão tanto da origem do problema, como na escolha do tratamento a ser seguido, após os resultados. O procedimento também serve para esclarecer as causas de síncopes (desmaios) e avaliar o risco de morte súbita. Utiliza–se eletrodos especiais ligados a polígrafos computadorizados e são colocados no interior das cavidades cardíacas, guiados por sofisticados equipamentos de raio-X. Com isso o estudo eletrofisiológico é um método que complementa o exame de eletrocardiograma que, algumas vezes, por si só, não é capaz de detectar as causas da arritmia.

 

O estudo aqui apresentado busca contribuir para a discussão da importância deste exame, que tem sido essencial para os avanços até então nesta área médica. Baseia-se, sobretudo, nas Diretrizes para a Avaliação e Tratamento de Pacientes com Arritmia Cardíaca, documento produzido e organizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 2002. Nestas diretrizes, procura-se estabelecer normas técnicas para a realização dos procedimentos intervencionistas, como qualificação e habilitação dos

 

recursos   humanos,   condições   de   segurança   dos    serviços   e    equipamentos indispensáveis para realização destes procedimentos.

 

Desenvolvimento

 

Caso ocorra uma aceleração cardíaca que não é favorável a idade ou o nível de esforço, é chamado de taquicardia, caso a frequência cardíaca esteja lenta, chama-se de bradicardia. Normalmente, um coração adulto sadio e em repouso apresenta cerca de 60 a 100 batimentos por minuto, as primeiras suspeitas de anormalidade neste sistema cardíaco, normalmente são apontadas pelos pacientes após sofrerem algum distúrbio significativo desta frequência, sendo significativo em relação à percepção desses sintomas, para que assim, após procedimentos simples feitos pelo médico, com exames físicos, o mesmo pode avaliar e decidir o melhor método diagnóstico a ser realizado de acordo com o caso apresentado.

 

Um indivíduo com arritmia cardíaca pode sentir um desconforto com a mudança na cadência, ter a sensação ou de fato apresentar dispneia ou interrupções desses batimentos. A pulsação arterial pode ser sentida manualmente em vários locais do corpo, sendo as mais comuns nas regiões do punho, com a pulsação radial e a do pescoço, com a pulsação carotídea. As arritmias podem ser benignas, que causam apenas desconforto, ou malignas, com alto risco de morte súbita. A doença pode fazer com que o coração não consiga bombear sangue suficiente para suprir as necessidades do corpo, o que pode causar Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), dentre outras patologias.

 

A arritmia mais comum e a (FA) fibrilação atrial, ocorre devido ao ritmo irregular proveniente dos atrios, que produzem estímulos de forma desorganizada e frenética, causando má circulação sanguínea. Como resultado, o ritmo irregular pode fazer com que o sangue não circula como deveria, com grandes possibilidades de formação de trombos. O problema de saúde aumenta com o avançar da idade.

 

As arritmias podem ser classificadas de diversas formas, dependendo de frequência e intensidade, mecanismos de formação local e origem, entre outros. Quanto à frequência, as arritmias podem ser classificadas em:

 

Bradicardia: ocorre quando o músculo cardíaco gera uma frequência inferior a 60 batimentos por minuto. Nesse ritmo, o coração não consegue bombear o sangue rico em oxigênio de forma suficiente para o corpo; consequentemente o paciente é afetado sofre vertigens, prostração, dispneia, ou até mesmo desmaios. Em algumas pessoas, pode ser um achado normal, como em atletas. São conhecidos vários tipos de bradicardia, cada um com suas características peculiares. Os marca-passos cardíacos são utilizados no tratamento desse tipo de arritmia.

 

Taquicardia: ocorre quando o músculo cardíaco gera uma frequência superior a 100 batimentos por minuto, que pode tanto começar nas câmaras inferiores do coração (ventrículos) quanto nas câmaras superiores (átrios). Com estes ritmos elevados, o coração não consegue bombear eficientemente o sangue rico em oxigênio para o resto do corpo. Ocorre, normalmente, durante atividade física, estresse emocional, em presença de anemia e outras patologias. Existem vários tipos, algumas extremamente graves.

 

Quanto ao local de origem, as arritmias classificam – se em:

 

Atriais: como sabemos, o coração é composto de quatro câmaras ( ou divisões), dois átrios e dois ventrículos. O estímulo normal para o batimento cardíaco é gerado no átrio direito. Em algumas arritmias, esses estímulos são gerados, em excesso ou em falta, pela própria estrutura que normalmente os gera; em outras, o estímulo surge em algum outro lugar nos átrios, levando à ocorrência de arritmias atriais.

 

Junciais: essas arritmias podem surgir nas junções comunicantes, que são células que ligam um átrio a outro, ou um ventrículo a outro e até um átrio a um ventrículo, como o Septo Atrioventricular, não são estruturas próprias, as células de junção comunicante são um grupo de células especializadas do músculo cardíaco, e que funcionam simultaneamente, ou seja, desempenham a mesma ação ao mesmo tempo para que a atividade no todo seja perfeita, como na contração cardíaca, e se caso alguma dessas células pararem de funcionar ou alterar-se, todas as outras poderão estar comprometidas.

 

Ventriculares: Essas arritmias se dão na parte inferior do músculo, ou seja, nos ventrículos ou em qualquer estrutura presente nessa parte, podemos ter alterações

 

nas Fibras de Purkinje, no Feixe de His, ou nos Ramos Direito e Esquerdo que se aproximam do ápice do coração.

 

O sintoma mais comum é a palpitação, que pode ocorrer tanto nas bradicardias quanto nas taquicardias. Algumas pessoas são bastante sensíveis e apresentam grandes desconfortos na presença desse sintoma. Outro sintoma comum é a síncope (ou desmaio) caracterizada pela recuperação imediata e espontânea. O indivíduo deve sentir também dispneia, mal-estar, e outros sintomas que vão depender da presença ou não de outras doenças.

 

O diagnóstico preliminar é uma conversa com o paciente e o exame físico, o qual pode mostrar um pulso irregular e os exames complementares a serem solicitados, para esse fim, três métodos diferentes podem ser utilizados, sendo estes:

 

Eletrocardiograma: normalmente, é o primeiro a ser realizado, pode ser prático, simples e acessível. O médico pode realizá-lo no consultório, durante a consulta. Porém, esse exame só vai permitir o diagnóstico se for realizado no momento da ocorrência da arritmia.

 

Ecocardiograma: não tem finalidade de diagnosticar a arritmia, mas serve para detectar doenças cardíacas associadas, o que é de extrema importância para a avaliação do risco, do paciente.

 

Estudo Eletrofisiológico: É um exame de avaliação invasiva, que serve para detectar e estudar os defeitos do sistema elétrico do coração. O procedimento também serve para esclarecer as causas de síncopes (desmaios) e avaliar o risco de morte súbita.

 

A decisão da utilização de métodos diagnósticos complementares para investigação de pacientes em medicina baseia-se na capacidade destes métodos em confirmar ou afastar a hipótese diagnóstica levantada durante a observação clínica sistemática. A falta de critérios objetivos na utilização destes métodos pode promover a realização de exames desnecessários, elevando seu custo na investigação. (LORGA, et al, p. 6, 2002)

 

De acordo com os autores, a escolha do método de registro dependerá da frequência de ocorrência dos sintomas - diária, semanal ou esporadicamente. O

 

registro contínuo (Holter) é particularmente útil nos pacientes que apresentam sintomas diários.

 

No caso do exame eletrofisiológico, é importante ressaltar que é um método diagnóstico com várias finalidades, sendo estas: descobrir as causas de (colocar o pré-síncopes primeiro) síncopes (desmaios), pré – síncopes (tonturas) e palpitações (batedeira), esclarecer o mecanismo e a origem das arritmias; avaliar a eficácia de medicamentos antiarrítmicos; avaliar o funcionamento do cardioversor – desfibrilador implantável, aparelho semelhante ao marca – passo e que tem a capacidade de detectar e controlar as arritmias automaticamente. Este método diagnóstico alterou as condições de investigação da arritmia, tornando possível a observação do quanto há um avanço tecnológico na realização deste procedimento.

 

      Imagem 1 - Exame de Eletrofisiologia

 

 

 

      Fonte: Unidade HCI - Santa Casa de Ribeirão Preto,2020.

 

No entanto alguns procedimentos precisam ser realizados antes do exame ser feito, assim como cuidados com o ambiente, e principalmente, com a exposição da irradiação ionizante. Nesse sentido, o estudo é realizado com o paciente em jejum com anestesia local e sedação leve; são introduzidos cateteres (dois a três)

 

eletrodos pelas veias e/ou artéria femoral na região da virilha ou artéria jugular direcionada até o coração e posicionada nas câmaras cardíacas de interesses, sendo assim, é possível estudar a arritmia e descobrir seu ponto de origem. Esses eletrodos captam os sinais gerados pela atividade elétrica do coração, que são registrados em aparelhos especiais, isto permite que se identifiquem os pontos responsáveis pela origem ou pela manutenção das arritmias.

 

O exame deve ser realizado em ambiente hospitalar; equipamento de hemodinâmica ou arco móvel de radiologia. Recomendam–se equipamentos que minimizem a exposição à irradiação; polígrafo de eletrofisiologia com um mínimo seis canais intracavitários; estimulador cardíaco com capacidade de gerar estímulos elétricos básicos e, no mínimo, três extra–estímulos; marca passo cardíaco temporário; dois cardioversor–desfibrilhadores externos; um oxímetro de pulso; uma bomba de infusão; material de ressuscitação cardiopulmonar.

 

Segundo Lorga, et al (2002), a duração do estudo e variável (aproximadamente uma hora), dependendo de cada caso. O médico responsável pelo procedimento deve ter o certificado de habilitação em Eletrofisiologia Clínica Invasiva conferido pelo DAEC; um segundo médico, o 1° auxiliar, com conhecimento em eletrofisiologia cardíaca, um médico anestesista para administrar a sedação; uma enfermeira (o) ou técnica (o) de enfermagem. Ao término dos procedimentos, é feita compressão no local da punção e aplicado um curativo compressivo sem a necessidade de pontos. O estudo eletrofisiológico é considerado um exame seguro, mas, como todos os procedimentos médicos, eventualmente, podem ocorrer algumas complicações, como por exemplo, apesar de se utilizar uma quantidade reduzida de raios X, não se recomenda a realização durante a gestação.

 

Com os resultados do exame em mãos, o médico pode indicar se necessário, um dos tratamentos utilizados para a arritmia, como o uso de medicamentos, ablação, implantes de marca- passo e ou, desfibrilador cardíaco. Através do estudo eletrofisiológico o médico tem condições de definir a melhor conduta a ser adotada para cada paciente. Destaca-se a importância do procedimento e tratamento correto, pois as arritmias cardíacas podem ser fatais.

 

Considerações Finais

 

O presente artigo buscou compreender a importância do estudo eletrofisiológico e sua relevância para a detecção de arritmia cardíaca, fundamental na abordagem dos pacientes, para nortear o tratamento mais adequado, já que o estudo tem maior capacidade e precisão, possibilitando maiores detalhes, que permitem identificar a origem do problema, mesmo fora dos períodos de crise, sendo um procedimento, também, rápido, seguro e confiável.

 

O objetivo esteve em trazer a discussão de como os avanços científicos e tecnológicos, especialmente nesta área médica, vem contribuindo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, auxiliando os profissionais de saúde, que dispõem de maiores condições de indicar o tratamento correto e eficaz, a partir os resultados apresentados pelo exame, possibilitando melhores resultados aos pacientes que sofrem desta disfunção. Este avanço é fundamental, pois a arritmia pode trazer consequências graves, e até levar o paciente a óbito, no entanto, com o tratamento correto os impactos podem ser amenizados, aumento a perspectiva de vida. Espera- se com este artigo contribuir com a disseminação de pesquisas relacionadas a este procedimento, assim como, agregar esta área de estudo trazendo reflexões e apontamentos a cerca do tema aqui proposto.

 

 

REFERÊNCIA

 

LORGA, Adalberto et al. Diretrizes para avaliação e tratamento de pacientes com arritmias   cardíacas.   Arq.  Bras.  Cardiol,   vol.79,  pp.1-50,  2002.   Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066- 782X2002001900001&lng=en&nrm=iso>.                       ISSN                        1678-4170.

https://doi.org/10.1590/S0066-782X2002001900001. Acesso em: 30/05/2020

 

SOSA EA, Paola A, GIZZI, J, et al. Indicações para estudo eletrofisiológicos e ablação por cateter de arritmias cardíacas: recomendações do DAEC da SBC. Arq Bras Cardiol ,1995.

 

SCANAVACCA, M; FRANÇA, M. R. Q; CARMO, A. A. L; LARA, S; SOSA, E.

Eletrofisiologia cardíaca: indicações, de estudo eletrofisiológico e ablação.Eletrofisiologia Cardíaca: Indicações de Estudo Eletrofisiológico e Ablação. In: MOFFA, P. J; SANCHES, P. C. R; STOLF, N. A. G. Semiologia cardiovascular. São Paulo: ROCA, p.251-258, 2013.

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