Dr. Ricardo de Souza Alves Ferreira
Histórico Clínico: Paciente do sexo masculino, 19 anos, com história de hipertensão arterial sistêmica. Em uso atual de anlodipino 10 mg/dia e atenolol 50 mg/dia, com médias de pressão ambulatorial 150×90 mmHg. Ecocardiograma transtorácico com função ventricular esquerda preservada, valva aórtica tricúspide e aorta descendente com sinais de coartação.
Angiotomografia de Aorta: Realizou angiotomografia de aorta, com achado de estenose de aorta torácica descendente após a subclávia esquerda, apresentando as seguintes medidas no local da estenose: aorta descendente 1,6 cm com extensão de 6,2cm.
Indicado cateterismo cardíaco para avaliar a possibilidade de tratamento percutâneo da lesão.
Angiografia:CateterismoCardíaco
Realizou cateterismo por via radial direita, manometria com gradiente pressórico entre aorta ascendente e aorta descendente de 60 mmHg. Aortografia com cateter pigtail (Merit Medical Systems, Inc.) na aorta ascendente que demonstrou uma aorta ascendente de bom calibre, com redução de calibre um pouco abaixo da emergência da artéria subclávia esquerda, com extensão em torno de 60 mm.
Intervenção:Aortoplastia
Pela extensão de lesão programado intervenção com dois stents. Procedimento feito sob sedação profunda e anestesia local. O acesso foi obtido por punção das artérias femoral direita e radial direita, introdutores 6 Fr. Posicionado cateter pigtail em aorta ascendente e realização do controle angiográfico. Por via femoral introdução de fio guia 0,035” Amplatz SuperStiff™ (Boston Scientific, Natick, United States) até raiz da aorta ascendente, retirado
introdutor 6 Fr e inserido bainha longa 14 Fr Check-Flo® Performer™ (Cook, Cook Medical Inc., Bloomington, USA), que ultrapassou estenose, em seguida montado um stent Covered CP Stent™ (NuMED Inc., Hopkinton, United. States) 39mm sobre um balão TYSHAK II (NuMED Inc., Hopkinton, United. States) 16×50mm, posicionado e liberado na lesão em borda proximal, próximo a origem da subclávia esquerda, em seguido montado outro stent Covered CP Stent™39mm sobre balão TYSHAK II 16×50mm liberado distalmente.
Observou-se boa expansão angiográfica. Realizou novas manometrias com gradiente máximo de 5 mmHg. Aortografia de controle, com bom resultado angiográfico final que demonstrou boa expansão dos stents, sem sinais de dissecção intimal na aorta e fluxo preservado. O paciente recebeu alta após 2 dias, assintomático, em uso de AAS e com ajuste dos anti-hipertensivos, com orientação para angiotomografia de controle em 6 meses.
Resultado/Conclusões:Discussão
Coartação da aorta (CoAo) é responsável por 4% a 5% das cardiopatias congênitas e é caracterizada por um estreitamento da aorta torácica, geralmente após a artéria subclávia esquerda. A obstrução crítica é definida como diâmetro mínimo ao nível da coarctação menor que 3 mm na angiografia. Em pacientes com coarctação aórtica nativa ou recorrente, o alívio da obstrução está indicado na presença de gradiente de pressão acima de 20 mmHg. O tratamento da CoAo vem evoluindo ao longo do tempo, e a dilatação com cateter balão tornou-se uma alternativa menos invasiva à cirurgia. Recentemente, o implante percutâneo de stents balão-expansíveis tem sido tratamento de escolha para o tratamento da CoAo de adolescentes e adultos. O stent faz resistência às forças de retração elástica que estão associadas a recoartação pós aortoplastia com balão. Minimiza o trauma na parede aórtica e o potencial para formação de aneurisma por limitar a dilatação no local da
coarctação e nos segmentos adjacentes ao diâmetro do stent. A ampla variedade morfológica das CoAo e algumas complicações derivadas do implante de stents convencionais tornaram desejável o uso de stents recobertos. A recomendação atual é que se empregue stent em recoartações onde o paciente tenha tamanho suficiente para o implante seguro do stent e que o stent possa ser redilatado até o tamanho adequado para um adulto (Classe I, nível de evidência B). Na coartação nativa o emprego inicial de stent é recomedação IIa, nível de evidência B, assim como em coartações segmentares longas. O
procedimento é geralmente seguro, embora complicações possam ocorrer (recoartação, aneurismas, dissecção e ruptura da aorta). A taxa de mortalidade é provavelmente menor que 1-2%.