Boletim Informativo Nº 55
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Dr Wesley Rodrigues Fernandes
A evolução tecnológica em diversas ciências tem sido uma constante ao longo da história da humanidade. Esse processo, principalmente nas últimas décadas, ganhou impulso inimaginável. A velocidade com que as novas tecnologias surgem, se consolidam e são superadas por outras é impressionante. Acompanhando esse avanço, as ciências médicas evoluem em igual comparação. Algumas subdivisões da medicina são reconhecidas pelo avanço científico acelerado, exibem recursos inovadores, de fácil aplicabilidade e de resultados revolucionários. Esse é o caso da Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, que com o advento dos Stents e sua evolução, modificou a história natural da Síndrome Coronariana Aguda (SCA), em especial do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST. Nessa patologia em questão, há oclusão completa do vaso coronariano com elevados índices de morbimortalidade.
Os diversos trabalhos que respaldaram e aperfeiçoaram as técnicas e os materiais de angioplastia, também versaram sobre a importância do tratamento precoce nas SCA. Focando as atenções onde os trabalhos mostraram maior eficácia no tratamento isquêmico, o IAMCSST é a patologia em que a angioplastia primária não deixa mais questionamentos: os resultados são incontestáveis. A redução nos desfechos não deixa dúvidas sobre o que fazer com os doentes. Contudo, a implementação de uma rede de assistência que permita que esse tratamento chegue em tempo hábil a quem precisa tem sido um grande empecilho. Entre o início dos sintomas do paciente até a reperfusão completa do vaso, horas preciosas são perdidas. Esse tempo que não volta define o futuro do paciente. Os profissionais envolvidos nessa rede de atenção ao IAMCSST, seja na rede privada ou no atendimento ao SUS, tem que ter como uma de suas prioridades a redução do tempo de reperfusão. Com intuito de sistematizar e otimizar o tratamento dos enfermos com IAMCSST, as diretrizes evidenciam, embasadas em trabalhos contundentes, a importância de encurtar o tempo de reperfusão miocárdica. Números absolutos são expressos como padronização de metas que mostraram melhores resultados, mas sabendo que os desfechos clínicos desfavoráveis aumentam na proporção do tempo de isquemia, o objetivo é sempre o de buscar o menor tempo porta/balão ou contato/balão.
RECOMENDAÇÕES – DIRETRIZ BRASILEIRA DE IAMCSST (2015)
Em um trabalho mais recente, publicado por Jollis e cols. no JAMA (Journal of the American Medical Association), os autores analisaram dados do registro norte-americano Get With The Guidelines-Coronary Artery Disease com cerca de 114 mil pacientes admitidos com IAMCSST entre 2018 e 2021. A idade média dos paciente foi de 63 anos, a população era composta majoritariamente de homens brancos, 84,6% foram tratados com angioplastia primária, 4,5% com fribinolítico e o restante não recebeu terapia de reperfusão. O tempo médio porta-balão ou primeiro contato-balão ficou perto de 100 minutos, sendo menor nos pacientes que procuraram o serviço de emergência por meios próprios em hospitais que contavam com laboratório de hemodinâmica e maior naqueles que foram atendidos inicialmente em hospitais sem laboratório e necessitaram de transferência. A proporção de pacientes que não cumpriram as metas de tempo porta-balão aumentou no segundo trimestre de 2020 (25%) comparado ao período equivalente de 2018 (17%). A diferença média foi de 8,4%; intervalo de confiança 95% - 7,2% a 9,7%. O cumprimento adequado dos tempos porta-balão e contato-balão se associou a uma menor mortalidade intra-hospitalar tanto nos hospitais com centro de hemodinâmica (odds ratio 0,47; IC 95% 0,40 – 0,55) como nos casos em que houve necessidade de transferência (OR 0,44; IC 95% 0,26 – 0,71).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST – 2015
2- Jollis JG, Granger CB, Zègre-Hemsey JK, Henry TD, Goyal A, Tamis-Holland JE, Roettig ML, Ali MJ, French WJ, Poudel R, Zhao J, Stone RH, Jacobs AK. Treatment Time and In-Hospital Mortality Among Patients With ST-Segment Elevation Myocardial Infarction, 2018-2021. JAMA. 2022 Nov 22;328(20):2033-2040. doi: 10.1001/jama.2022.20149. (https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2798440)